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Foto do escritorDaniela Fernandes

Vigorexia: A obsessão por um Adónis inalcançável

Atualizado: 19 de jan. de 2023


De um modo geral, um transtorno dismórfico corporal é caracterizado pela perceção de um ou mais defeitos ou falhas na aparência física do próprio, que não são observáveis, ou parecem apenas leves para os outros. Além disso, caracteriza-se por comportamentos repetitivos (e.g., ver-se ao espelho repetidas vezes, ter cuidados excessivos com a aparência física) ou atos mentais (e.g., comparar a própria aparência com a de outra pessoa) em resposta às preocupações excessivas com a aparência.


Por sua vez, a vigorexia ou dismorfia muscular é classificada, pela Associação Americana de Psiquiatria, como um transtorno dismórfico corporal, caracterizado pela obsessão em possuir um corpo musculado, juntamente com uma distorção na perceção da autoimagem, que faz com que, embora magra e musculada, a pessoa considere que não está suficientemente definida, musculada ou forte, e se veja como mais fraca e mais magra do que realmente é. Quem sofre deste transtorno, apresenta pensamentos repetitivos e persistentes acerca da necessidade de fazer exercício físico, com o objetivo de aumentar a massa muscular, e uma obsessão por atingir o “corpo perfeito”. Por este motivo a vigorexia é também denominada de Síndrome de Adónis, referência ao deus grego da beleza.


Por último, a vigorexia pode ainda ser denominada de anorexia nervosa reversa - se, por um lado, na anorexia nervosa, a pessoa se vê como tendo excesso de peso, ainda que seja magra, por outro lado, na vigorexia, a pessoa vê-se como magra e fraca, quando, na verdade, possui uma musculatura bem definida.

De um modo geral, este transtorno tem maior incidência no género masculino, em idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos.


Habitualmente, a maioria das pessoas que apresenta este transtorno, tende a praticar exercício físico excessivo, adota uma alimentação excessivamente focada na ingestão de proteína, adota hábitos repetitivos como olhar-se muitas vezes ao espelho e, por vezes, recorre ao uso de substâncias, como por exemplo, esteroides anabolizantes, para atingir os seus objetivos relacionados com o corpo.


Todos os rituais anteriormente mencionados causam sofrimento psicológico clinicamente significativo e elevada interferência nas rotinas diárias do indivíduo. Por exemplo, indivíduos que sofrem de vigorexia passam muitas horas do seu dia a praticar atividade física, privando-se do convívio familiar e da vida social. O seu funcionamento na área profissional pode também ficar comprometido. Além disso, tendem a desvalorizar sintomas de fadiga ou cansaço, acabando por sofrer de fraqueza muscular generalizada, lesões musculares, problemas ósseos e articulares, cansaço extremo, insónias e dificuldade de concentração. Por fim, tendem ainda a experienciar níveis mais elevados de sintomatologia ansiosa e depressiva.


Sinais de alarme:

Preocupação excessiva, ou obsessão pelo ginásio e/ou exercício físico compulsivo; insatisfação com o corpo; perturbações no comportamento alimentar e consumo de substâncias, tais como esteroides anabolizantes.


O que causa a vigorexia?

A vigorexia não tem uma origem específica conhecida. Pode estar relacionada com um conjunto de fatores, tais como experiências prévias que conduziram à sobrevalorização da aparência física; desequilíbrio químico cerebral ou alteração genética; características de personalidade mais obsessivas e perfecionistas; necessidade de aprovação por parte dos outros; baixa autoestima. Além disso, o padrão de beleza imposto pelas sociedades modernas, a excessiva exposição ao corpo através dos media, nomeadamente nas redes sociais, poderá também contribuir, ainda que de forma indireta, para o desenvolvimento deste tipo de transtornos, ao incentivar, principalmente na população jovem, a procura inalcançável por um “corpo perfeito”.


Como intervir na vigorexia?

Tendo em consideração o impacto negativo da vigorexia para a saúde física e mental do individuo, esta exige uma intervenção multidisciplinar, que deverá, idealmente, envolver uma avaliação e acompanhamento médico, psicológico, nutricional e também ao nível da (re)educação física, de forma a promover um estilo de vida e comportamentos mais saudáveis para quem sofre deste transtorno. De acordo com a literatura científica, a terapia cognitivo-comportamental, especificamente, tem revelado resultados promissores no tratamento da vigorexia.

Se identificar em si, ou em alguém próximo, algum sinal de alarme para o desenvolvimento de vigorexia, procure ajude especializada ou incentive essa procura de ajuda.


Referências:

American Psychological Association (2014). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5th ed.). Arlington, VA.

Nascimento, M. V., Lima, R., Clemente, F. M., Silva, B., & Camões, J. M. (2021). Vigorexia, um mal que aflige os fisiculturistas portugueses: Facto ou mito? Revista Sociedade Científica, 4(1). https://doi.org/10.5281/zenodo.5210921

Pope, H. G., Pope, H., Phillips, K. A., & Olivardia, R. (2000). The Adonis complex: The secret crisis of male body obsession. Simon and Schuster.

Santos, C. A., Bezerra, G. K., Barbosa, M. S., Cunha, F. T., Barbosa, S. M., & Oliveira, D. C. (2021). Vigorexia, um distúrbio alimentar na modernidade. Research, Society and Development, 10(5). https://doi.org/10.33448/rsd-v10i5.14817

Tovt, S., & Kajanová, A. (2021). Introduction to bigorexia*. Journal of Nursing and Social Sciences Related to Health and Illness*, 133-136. https://doi.org/10.32725/kont.2021.014

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