As pessoas que vivem no limite das suas emoções!
“Corações descontrolados. Ciúmes, raiva, impulsividade… ser borderline é assim!!…”.
Como lidar com estas pessoas?
Todos nós temos momentos de explosões de raiva, tristeza, impulsividade, teimosia, instabilidade de humor, ciúmes intensos, apego afetivo, desespero, descontrole emocional, medo de rejeição, insatisfação pessoal.
E, quase sempre, isso gera transtornos e prejuízos para nós mesmos e/ou para as pessoas que convivem diretamente connosco.
Porém, quando estes comportamentos se apresentam de forma frequente, intensa e persistente, eles acabam por produzir um padrão existencial marcado por dificuldades de adaptação do indivíduo ao seu ambiente social.
Quando isto ocorre, podemos estar diante do transtorno da personalidade borderline.
Os borderlines apresentam hiperatividade emocional, ou seja, é muito sentimento e muita emoção. Costumam lidar muito mal com qualquer tipo de adversidade, especialmente as que envolvem rejeição, desaprovação e/ou abandono. Quando se deparam com uma situação dessas, desencadeiam uma reação de stresse muito mais intensa e abrangente do que o esperado.
A este tipo de pessoa chama-se borderline, porque vivem no limite das emoções.
É o transtorno do amor?
É o transtorno dos afetos. Porque o amor deve ser funcional, positivo. O que o borderline tem é um afeto disfuncional.
Existe uma personalidade borderline e um transtorno de personalidade borderline? Como é isso? Qual a linha divisória?
Personalidade é o conjunto das características marcantes de uma pessoa.
É a parte biológica agrega
da ao que aprendemos, à cultura. A junção destas duas partes vai gerar uma série de comportamentos recorrentes, que caracterizam a personalidade de cada um.
A personalidade borderline é marcada pela dificuldade nas relações interpessoais, pela baixa autoestima, instabilidade reativa do humor e impulsividade. Quando estas características se apresentam de forma muito disfuncional, apelidam-se de transtorno.
Tipos diferentes de personalidades, mesmo com traços aparentemente negativos, podem ser requisitos para um transtorno de personalidade Borderline?
Só se revela um transtorno quando apresenta problemas sérios para a pessoa, quando é tão disfuncional que a pessoa deixa de ser produtiva. Tirando isso, a personalidade borderline, ou, como dizemos, o traço borderline, pode ser muito interessante, se a pessoa não tiver ataques de fúria, ou dependência. Grandes causas sociais, demandam pessoas com grande capacidade de sentir empatia, com grande sensibilidade e que precisam de um alto grau de aceitação. Uma outra característica comum nestas pessoas é a fluidez na auto-percepção.
Pessoas com traço borderline dão grandes atores. Quando tratamos alguém com o transtorno, temos que ter em mente que, antes de mais nada, essa é uma maneira de ser, uma base estabelecida que não muda. O que buscamos no tratamento é transformar o transtorno em traço: ou seja, a pessoa vai continuar a ser sensível, emotiva, mas ela não vai capotar naquilo, vai canalizar para coisas produtivas.
O quanto do transtorno é biológico e o quanto é fruto do meio?
A maior parte das pessoas com o transtorno teve vidas muito duras, marcadas por abuso sexual, agressão física, abandono. Como se pode dizer que isso é biológico?
O que se sabe é que 50% são biológicos e 50% estão relacionados à criação, ao meio, à cultura. Quando a pessoa tem o factor biológico, mas vive num meio normal, o transtorno apresenta-se de uma forma muito mais branda ou como traço. A estrutura genética não muda, mas é possível moldar a forma como se apresenta.
Como é a vida de quem tem o transtorno?
A pessoa tem uma dificuldade muito grande nos relacionamentos. Ela tem a autoestima destruída. Se vê muito pior do que é, de maneira depreciativa, e acha que a solução está no outro; é na dependência afetiva do outro que ela busca segurança e legitimidade. E é muito impulsiva. Mas essa impulsividade é manifestada de uma forma muito específica: ela está relacionada a explosões de raiva e ira.
O borderline, como dizemos, é aquela pessoa que, literalmente, fica cega de raiva.
Quem já viveu uma paixão alucinada sabe como é ser borderline: esta é a forma do borderline exprimir o que sente. O estado da paixão, de acordo com a ciência, dura de dois meses a dois anos justamente porque, se durar mais, ninguém aguenta. Mas o borderline consegue viver assim.
Trata-se de um transtorno que acomete muito mais mulheres do que homens. A neurociência explica por quê?
Sabemos que 75% dos pacientes são mulheres. Não sabemos exatamente por quê, mas não chega a ser uma grande surpresa se pensarmos que o transtorno está relacionado a uma hiperatividade do sistema límbico, que é o nosso verdadeiro coração, a região do cérebro que regula as emoções.
No borderline, o sistema está demasiado ativo, no extremo das emoções.
Nos momentos de maior impulsividade, é como se houvesse um choque total no sistema, um curto-circuito.
Como a questão das emoções já é naturalmente mais marcada para as mulheres, é de se esperar que elas sejam a maior parte dos pacientes. Por outro lado, os homens, com cérebros mais racionais, são a maioria dos que sofrem de transtorno de psicopatia — em que o sistema límbico não funciona ou funciona muito pouco, o que os torna incapazes de ter empatia, de se sensibilizar com o sofrimento dos outros.
A adolescência é uma época em que as emoções já são muito mais intensas. Como é o transtorno nessa fase da vida?
O transtorno surge pela primeira vez nesta fase que é, em geral, quando ocorre o primeiro rompimento ou afeto não correspondido. Essa rejeição desencadeia o curto-circuito. A adolescência é a época das paixões, da impulsividade, da sexualidade, do comportamento de risco. Tudo isso faz parte, o adolescente tem que arriscar para aprender. É uma erupção emocional. No borderline, no entanto, é uma hemorragia. A automutilação é um comportamento recorrente. E se você perguntar por que ele fez aquilo, vai dizer que é para aliviar a angústia, o vazio.
E alivia mesmo? Por quê?
Sim. Ele se sente muito melhor porque deixa de sentir angústia. Quando há uma ameaça física ao corpo, o sistema de defesa e stresse é acionado. A substância libertada para obstruir a agressão é a endorfina, que é um anestésico. Por isso, um tratamento ótimo é a atividade física intensa, que liberta endorfinas.
Existe tratamento?
É possível diminuir a hiperatividade do sistema límbico com medicações específicas em doses específicas — muitas vezes mínimas. Com isso, você reduz muito os ataques de fúria, os atos destrutivos, as agressões; baixa a atividade do sistema límbico. Mas, paralelamente, é preciso terapia, uma psicoterapia muito específica, mais direcionada para o presente do que para o passado, que vai treinar a pessoa a viver com menos intensidade, a sangrar menos. A não morrer de hemorragia.
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