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Foto do escritorVanessa Ressureição

Síndrome do Cólon Irritável

Atualizado: 25 de mai. de 2022



O que é a Síndrome do Cólon Irritável?

É comum as pessoas experienciarem problemas digestivos de vez em quando. Contudo, a síndrome do cólon irritável (SCI) não se trata de um problema digestivo normativo, mas sim de uma condição crónica que tende a ir e a vir com o tempo, cuja manifestação dos sintomas pode durar dias, semanas ou meses de cada vez. Esta perturbação do tubo digestivo origina uma diversidade de sintomas recorrentes na ausência de uma causa orgânica ou estrutural.


Os principais sintomas da SCI são a dor de barriga associada a uma desregulação dos movimentos intestinais, que se traduz em obstipação, diarreia, ou ambos. Para além destes, a SCI pode causar cólicas, inchaço, flatulência, náuseas, cansaço e falta de energia.

Geralmente, estes sintomas não são permanentes, pelo que podem aliviar por determinado período de tempo antes de um reaparecimento. No entanto, algumas pessoas têm sintomas contínuos e durante longos períodos de tempo. Em particular, nas mulheres, os sintomas da SCI tendem a aparecer no momento da menstruação ou podem agravar-se durante este período de tempo. Qualquer pessoa pode ter síndrome do cólon irritável, mas esta condição é duas vezes mais prevalente nas mulheres do que nos homens, e os sintomas começam geralmente antes dos 35 anos de idade. Na verdade, é raro que a SCI tenha início depois dos 50 anos de idade.


Quais são as causas da SCI e como é diagnosticada?

As causas exatas da SCI ainda são desconhecidas. Contudo, uma das teorias apresentadas hipotetiza a existência de uma distorção nos canais de comunicação entre o cérebro e o sistema digestivo (e vice-versa) e, a existência destas alterações na comunicação parece desencadear contrações irregulares nos músculos intestinais que resultam em cólicas, dor e alterações na velocidade da digestão. A SCI parece também estar associada a uma hipersensibilidade dos nervos intestinais a certos estímulos, tais como alimentos específicos ou stress.

Para complicar as coisas, não existe um teste específico para identificar a presença de SCI. Geralmente, o diagnóstico desta condição é baseado na descrição dos sintomas por parte do paciente e em vários testes prescritos pelo médico com o objetivo de descartar/excluir outras possíveis causas estruturais dos sintomas apresentados.


Qual o seu impacto?

Sendo uma condição médica invisível, a SCI pode ser um problema que não é levado suficientemente a sério. No entanto, para além do sofrimento físico, os doentes com diagnóstico de SCI apresentam taxas elevadas de psicopatologia, tais como perturbações do humor, pobre qualidade de vida, ausências mais frequentes no trabalho, menor produtividade e uma maior utilização dos cuidados de saúde disponíveis. Para além disso, a SCI representa um conjunto de sintomas desconfortáveis que podem fazer o doente sentir-se ansioso e em alerta sobre a possibilidade de ter uma casa de banho disponível se necessário, ou até envergonhado por pela manifestação dos sintomas em más alturas, como no trabalho, a meio de uma conversa ou em qualquer situação em que a saída seja dificultada por fatores externos. Em casos graves, os doentes chegam mesmo a evitar situações sociais ou saídas de casa.


Gatilhos e o papel do stress e da ansiedade

O primeiro passo para gerir os sintomas de SCI é tentar identificar quais os estímulos que os agravam. Para além do stress, os gatilhos mais comuns incluem comer uma refeição, alterações hormonais, reações emocionais intensas, e a toma de certos medicamentos. Tenha em mente que nenhum alimento em particular está associado aos sintomas da SCI, cada pessoa é diferente.

Ainda não é estritamente claro de que forma o stress, a ansiedade e a SCI estão ligados entre si ou qual deles se manifesta primeiro, mas estudos demonstram que estes podem não só ocorrer em conjunto como também se podem realimentar.

Adicionalmente, estima-se que cerca de 60% dos pacientes com SCI cumprem os critérios para o diagnóstico de uma ou mais doenças mentais. Estima-se que mais de 60% destes pacientes sofrem de perturbação de ansiedade generalizada ou outras perturbações de ansiedade, 20% sofrem com depressão, e os restantes experienciem sintomas de outros quadros clínicos.


Atualmente, existem algumas teorias acerca da ligação entre a SCI, o stress e a ansiedade. A primeira afirma que as pessoas que sofrem desta condição podem ser emocionalmente mais sensíveis. Outra teoria relata que as emoções intensas podem ativar substâncias químicas no cérebro que libertam sinais de dor no intestino e que, por sua vez, provocam movimentos intestinais irregulares. Isto acontece porque estes movimentos do sistema digestivo são controlados em grande parte pelo sistema nervoso.


Neste sentido, a desregulação emocional pode afetar os nervos, tornando o sistema digestivo hiperativo, e o cólon excessivamente sensível mesmo a uma ligeira alteração do sistema nervoso (para além disso, níveis anormais de serotonina no cólon estão relacionados com estes movimentos intestinais irregulares, o que corrobora esta teoria). Destaca-se também uma teoria que analisa em que medida é que o stress e a ansiedade podem promover o foco atencional nos espasmos do cólon, fazendo com que o doente esteja mais atento aos sinais intestinais e, consequentemente, os amplifique. Por último, também se considera que a SCI pode ser afetada pelo sistema imunitário que, por sua vez, é afetado pelos níveis de stress.


O que pode ajudar?

Para além das recomendações relativas à alimentação e a outros hábitos de vida, e da prescrição de medicamentos, não é incomum que os antidepressivos sejam integrados no protocolo de intervenção da SCI, uma vez que a condição está associada ao funcionamento do sistema nervoso. Tenha em conta que a prescrição de antidepressivos não é sinónimo de que os sintomas sejam "psicológicos" ou causados por depressão. Na verdade, os antidepressivos atuam nos neurotransmissores do aparelho digestivo e aliviam a dor e as cólicas.


Adicionalmente, vários estudos demonstram que o manejo saudável dos níveis de stress pode ajudar a prevenir ou a aliviar os sintomas de SCI. A explicação para isto prende-se no facto de que o intestino tem, ao que se chama, um “cérebro" próprio - tecnicamente estamos a falar do sistema nervoso entérico (uma grande divisão do sistema nervoso periférico responsável pelo controlo autónomo gastrointestinal) que também é o responsável pela sensação de "borboletas" no estômago quando estamos nervosos. Este "segundo cérebro" não só controla a forma como os alimentos são digeridos como está em constante a comunicação com o "cérebro real” através de uma rede neuronal e dos neurotransmissores lá presentes.


Posto isto, a psicoterapia pode ajudar a lidar com o stress e ansiedade presentes na SCI (e com outros quadros clínicos mentais comuns concomitantes com esta condição), ao disponibilizar estratégias saudáveis para identificar e gerir os gatilhos que podem exacerbar os sintomas e os eventuais períodos de crise desta condição. Resumindo, na psicoterapia, as pessoas com SCI podem conhecer a relação mente-corpo que pode estar a agravar os sintomas e aprender como lidar com o seu funcionamento.


Prognóstico a longo prazo

Apesar da síndrome do cólon irritável ser uma condição persistente ao longo do tempo, existem períodos em que os sintomas são menos dolorosos. Para além disso, apesar da cronicidade, os sintomas da SCI não tendem a agravar com o tempo, não são fatais e não aumentam a probabilidade do desenvolvimento de condições digestivas mais graves, como doença inflamatória intestinal ou cancro.


De relembrar que os pacientes com SCI podem viver uma vida com qualidade apesar da sua condição.

Procure manter um diário pessoal de consumo de alimentos, emoções e sintomas, para que possa estar atento e lidar de forma saudável com eventuais gatilhos futuros.

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