Mudar de país pode ser uma experiência enriquecedora. No entanto, qualquer mudança causa um impacto na pessoa e origina sentimentos de desconforto, tensão e stress. Lidar com aquilo que é desconhecido, onde não conseguimos prever ou adivinhar o que irá acontecer, obriga-nos a sair da nossa zona de conforto, o que pode ser assustador.
Afinal, abandonamos aquilo que nos é familiar e deparamo-nos com uma cultura onde a língua, a forma de estar, a interação entre as pessoas e até o sentido de humor é diferente daquilo a que estamos habituados. Para além disso, é necessário adaptarmo-nos a uma alimentação e a um clima novos, o que só por si pode alterar o nosso humor e a nossa disposição.
Nestas situações, em que saímos da nossa zona de conforto, tendencialmente o cérebro funciona da seguinte forma: em primeiro lugar, mantém a nossa atenção focada nessa situação potencialmente ameaçadora ou perigosa (perigosa pois não sabemos o que irá acontecer, logo sentimos que não a controlamos), como se fosse um sinal de alerta. Em segundo lugar avalia a situação como mais negativa e assustadora do que ela é na realidade, pois mais vale prevenir do que remediar. Assim, o cérebro identifica todos os cenários possíveis, principalmente aqueles que são mais inconvenientes para nós, para que encontremos soluções antecipadas para os mesmos.
O nosso cérebro faz isto automaticamente com o objectivo de nos proteger. Esta forma de ver o mundo à nossa volta mantendo-nos focados naquilo que é negativo e que pode ser perigoso, motiva-nos a adoptar comportamentos mais cuidadosos e a prevenir situações desvantajosas para nós. Parece fácil percebermos as vantagens desta forma de estar e ver o mundo, se pensarmos que é ela que nos impede de ficarmos parados no meio de uma estrada com trânsito ou de nos aproximarmos demasiado de um precipício.
No entanto, por vezes este constante pensamento negativo só nos traz medos desnecessários, levando-nos a agir de uma maneira demasiado cautelosa, evitando tomar qualquer “risco”.
Quando estamos fora do nosso meio, daquilo que conhecemos e que nos é familiar, é normal estes pensamentos negativos e ameaçadores surgirem de forma mais frequente. É normal sentirmo-nos ameaçados ou um pouco nervosos com todas as mudanças, e aos poucos podemo-nos ir isolando cada vez mais desse novo país, da cultura e das pessoas.
Para além disso, o nosso cérebro também faz com que idealizemos a nossa vida anterior, a cidade, os espaço e as pessoas que já conhecíamos. Iremos reconhecer que afinal antes, no nosso país, é que éramos felizes. No entanto, isto pode ser apenas uma visão romantizada das nossas memórias, que muitas vezes não corresponde à realidade daquilo que, de facto, aconteceu. Na verdade, o cérebro é um eterno insatisfeito – sempre focado naquilo que está mal no presente e no que poderia estar muito melhor.
Então como podemos lidar com este cérebro que tanto se esforça para nos proteger? Em primeiro lugar, é importante estarmos conscientes de que esta é a forma normal de funcionamento do cérebro quando enfrentamos uma mudança. Deste modo, podemos perceber quando estamos a entrar neste modo de auto-defesa e agir de forma a desactivá-lo.
Para isso, tudo aquilo que nos permitir ganhar uma perspectiva maior do problema pode ajudar-nos. Por exemplo, podemos escrever ou falar com alguém que nos é próximo sobre aquilo que sentimos, e, assim, estamos a tirar estes medos e receios de dentro de nós e a colocá-los à nossa frente, criando uma distância entre nós e os problemas e tornando-os mais pequenos. Podemos praticar exercício físico, manter uma alimentação equilibrada e dormir o suficiente, o que irá melhorar o nosso humor e a nossa disposição.
Para além disso, é essencial autorizarmo-nos a irmos, aos poucos, conhecendo o país em que estamos. Conhecer a cultura, os locais, as pessoas, a língua… só assim poderemos ir criando as nossas raízes, transformando este novo local em algo nosso.
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