“O problema dos jovens hoje em dia é…”. Provavelmente você já ouviu comentários como esse sobre a geração atual - a Geração Z (1997-2012), feitos pelos Boomers (1946-1964), a Geração X (1965-1979) ou os Millennials (1980-1996). Eles geralmente têm teorias diferentes sobre por que “os jovens de hoje em dia são mais problemáticos” do que antigamente. O quão verdadeiro é isso?
Curiosamente, esse comentário é frequentemente feito por todas as gerações que atingem uma idade avançada: o que a Geração Silenciosa pensava dos Boomers, o que os Boomers pensavam da Geração X e o que a Geração X pensava dos Millennials. Isto resulta num constante choque geracional uma vez que existem novos hábitos ou atitudes que são desenvolvidos pelas gerações como resposta aos atuais eventos da época. Em outras palavras, cada geração tem os seus problemas, e quanto mais o tempo passa, mais é difícil aceitá-las.
Consequentemente, podemos dizer que a geração atual também tem a sua parcela de problemas. Aos nossos olhos, a Geração Z é muitas vezes vista como “muito sensível”, “muito mimada” e que precisa “se endurecer”. Mas essa visão é através dos filtros de como crescemos e dos eventos globais que nossa geração viveu.
Vamos primeiro considerar os eventos globais em que a Geração Z cresceu: 11 de setembro, mudanças climáticas, tiroteios em escolas, aumento do suicídio de adolescentes, agitação política, crise dos refugiados, e revolução da tecnologia e das mídias sociais. Como esses eventos afetaram a saúde mental?
Um estudo da American Psychological Association mostrou que a geração Z é fortemente impactada pelas notícias, especialmente aqueles (eventos) que estão além do seu controle. Os fatores de stress mais fortes relacionados com as notícias foram as preocupações com tiroteios em massa, separação e deportação de famílias de imigrantes e migrantes, e denúncias de assédio e agressão sexual. Além disso, fatores de stress como dívidas, trabalho e moradia também foram comumente relatados.
Podemos dizer que a revolução tecnológica e das mídias sociais influenciou isso e mudou completamente a forma como os jovens se comunicam e como eles são expostos à informação. Atualmente, eles têm acesso às notícias na ponta dos dedos e recebem uma notificação sempre que uma tragédia acontece no mundo. Hoje em dia, eles têm contato com pessoas de todos os lugares do planeta, acabando por estar sempre ligados a eventos mesmo que do outro lado do globo. É muito mais fácil que eles vivam mais e mais perto estes eventos, sejam eles positivos ou negativos.
De que outra forma essa revolução os afetou? Se antes os jovens se comparavam com os outros da sua rua, ou com os jovens dos (poucos) programas de TV, agora eles se comparam com o mundo inteiro, pois eles conseguem acessá-los através de um simples scroll nos seus smartphones. Se antes as crianças descobriam a pornografia através de revistas ou filmes adultos dos pais (ou pais dos amigos), hoje eles encontram por meio de uma rápida pesquisa na internet. E em vez de ver um punhado de fotos ou filmes, eles têm acesso gratuito a todas as categorias de pornografia existentes.
O potencial da exposição nociva é enorme e ainda não estamos suficientemente preparados para evitá-la. As consequências? Ainda não sabemos ao certo. No mesmo estudo mencionado acima, os pesquisadores descobriram que a Geração Z é mais propensa (27%) a relatar problemas de saúde mental do que a Geração Y (15%) e a Geração X (13%).
No entanto, há uma vantagem que esta geração tem sobre as anteriores: a consciencialização sobre a saúde mental como nunca vimos antes. A Geração Z está falando mais abertamente sobre saúde mental, está mais aberta a procurar ajuda psicológica e está diminuindo o estigma que os irmãos mais velhos, pais e avós têm sobre isso. Isso me faz indagar se essa é uma das razões pelas quais eles são mais propensos a relatar problemas de saúde mental – se eles estão mais conscientes disso, eles são mais propensos a reconhecê-la e a expressá-la.
Por isso, acredito que podemos aprender com eles. Podemos aprender a olhar para dentro de nós mesmos e refletir se estamos levando a vida que queremos, se realmente estamos bem quanto dizemos a nós mesmos e aos outros que estamos. Podemos aprender a entender quais atitudes e comportamentos temos que são negativos para nós mesmos e trabalhar para superá-los.
No final das contas, o problema com as crianças de hoje em dia é...o que for que os eventos presentes ditarem.
Referências
Bethune, S. (2019, January). Gen Z more likely to report mental health concerns. Monitor on Psychology, 50(1). http://www.apa.org/monitor/2019/01/gen-z
Keyes, K. M., Gary, D., O'Malley, P. M., Hamilton, A., & Schulenberg, J. (2019). Recent increases in depressive symptoms among US adolescents: trends from 1991 to 2018. Social psychiatry and psychiatric epidemiology, 54(8), 987–996. https://doi.org/10.1007/s00127-019-01697-8
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