O sono é um processo fisiológico vital essencial para o funcionamento do cérebro. Durante o sono, o cérebro processa e consolida as informações adquiridas durante a vigília, facilitando uma melhor retenção da memória, a regulação das emoções, contribuindo, de um modo geral, para o bem-estar físico e psicológico. O ciclo sono-vigília é regulado por redes neuronais e sinais hormonais, e as perturbações deste ciclo podem levar a perturbações do sono, tais como a insónia.
A insónia é uma perturbação do sono, que pode ter efeitos profundos na saúde física e mental do indivíduo. É definida como uma experiência subjetiva de sono inadequado ou de sono de qualidade limitada, apesar das oportunidades e condições adequadas para dormir, com prejuízo do funcionamento social, ocupacional e de outras áreas de vida do indivíduo. Pode ser caracterizada por uma dificuldade em iniciar o sono (insónia inicial), dificuldade em mantê-lo (insónia intermédia), acordar demasiado cedo (insónia terminal) ou, embora menos frequente, por uma queixa de sono não reparador ou de má qualidade. A insónia pode ser aguda (duração inferior a quatro semanas) ou crónica (duração superior a quatro semanas), com sintomas que ocorrem pelo menos três noites por semana.
Causas da insónia
Em termos de causas, estas podem ser divididas em primárias (não causadas por uma condição física ou mental conhecida) ou secundárias (causadas por outra doença médica ou psiquiátrica, medicação, entre outros). A prevalência de causas secundárias é muito superior e parece estar cada vez mais a aumentar.
Vários fatores estão envolvidos no desenvolvimento da insónia, tais como: i) genéticos, uma vez que as características e condições do sono, incluindo a insónia, parecem estar presentes nas famílias; ii) diferenças de atividade cerebral - as pessoas com insónia podem ter cérebros mais ativos ou diferenças na química cerebral que afetam a sua capacidade de dormir; iii) condições médicas que afetam o seu ritmo circadiano, o relógio natural de sono/vigília do seu corpo, tais como doenças temporárias como infeções ou lesões menores, ou condições crónicas como refluxo ou doença de Parkinson; iv) condições de saúde mental, como ansiedade ou depressão; v) circunstâncias da vida, acontecimentos stressantes ou difíceis podem contribuir para a insónia; vi) hábitos e rotina, que incluem sestas, o momento em que as pessoas vão dormir, se e quando consomem cafeína ou álcool, e a utilização de dispositivos eletrónicos antes da hora de dormir.
Existem vários fatores de risco associados à insónia, como o aumento da idade, ser do género feminino, ter relações sociais de baixa qualidade, ter baixo estatuto socioeconómico, experienciar uma separação conjugal e estar desempregado.
É importante reconhecer que a insónia pode resultar de uma combinação destes fatores. Por exemplo, o stress psicológico pode desencadear insónia em alguém predisposto a ter dificuldades em dormir devido a maus hábitos de sono. Além disso, a insónia crónica pode criar um ciclo vicioso, em que o medo de não dormir bem pode agravar ainda mais as dificuldades de sono.
Intervenção e tratamento
O tratamento da insónia envolve uma abordagem multidisciplinar, considerando tanto os fatores psicológicos como os fisiológicos.
O tratamento psicológico da insónia envolve principalmente a Terapia Cognitivo-Comportamental para a Insónia (TCC-I) - uma abordagem terapêutica bem estabelecida e eficaz. A TCC-I pretende avaliar e intervir nos fatores comportamentais e cognitivos que contribuem para as perturbações do sono, com o objetivo de melhorar a sua qualidade. O tratamento é normalmente administrado por profissionais de saúde mental com formação, como psicólogos ou especialistas do sono. Além disso, os tratamentos farmacológicos, quando adequados, podem ser utilizados a curto prazo para aliviar os sintomas e melhorar a qualidade do sono.
Se tiver perturbações persistentes do sono ou se encontrar a sofrer de insónia, é fundamental consultar um profissional de saúde ou um especialista do sono para identificar as causas específicas do seu problema e procurar tratamento adequado. A abordagem das causas subjacentes é essencial para gerir eficazmente a insónia e melhorar a qualidade geral do sono e consequente qualidade de vida.
Referências
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