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Foto do escritorMélisa Martins

Expressividade emocional na família

Atualizado: 28 de mar. de 2023



Já parou para pensar como expressa as suas emoções? Será que expressa as suas emoções agradáveis da mesma forma que expressa as menos agradáveis, como a tristeza ou a raiva? Que mensagem está a passar aos seus filhos? Que devemos expressar as nossas emoções boas ou menos boas, dando espaço para a sua autorregulação, sem vergonha e sem evitamento? Ou está a ensinar-lhes que só existe um tipo de emoções que devem ser partilhadas e expressadas?

As emoções têm um papel fundamental no modo como aprendemos a funcionar cognitivamente no mundo social, influenciando a expressão emocional e a experiência acerca de nós mesmos e dos outros. A expressividade emocional é um meio de comunicação privilegiado, tendo um papel importante na regulação do comportamento das crianças, na relação das crianças com os seus pares.


As emoções são elementos básicos das interações sociais ao longo da vida. Em primeiro lugar, são uma fonte de informação, tanto para quem comunica, como para quem está a receber a comunicação. Em segundo lugar, as emoções são parte efetiva da interação social, como um processo dinâmico na criação da relação com os outros. Enquanto o sistema de drive visa regular as condições internas do indivíduo, isto é, colmatar as necessidades básicas como a fome e a sede, as emoções procuram regular a relação do indivíduo com o ambiente externo, quer seja na aproximação de determinados objetos, pessoas, situações ou para nos afastar deles.

As emoções afetam a atenção, modificam o comportamento e ativam memórias. Fisiologicamente, as emoções ativam respostas biológicas que incluem o tónus muscular, a expressão facial e o tom de voz, aumentando a atividade do sistema nervoso e a atividade endócrina o que, por sua vez, afeta novos comportamentos.


A família é, possivelmente, o primeiro contexto no qual a criança aprende como as emoções são tipicamente manifestadas, as mensagens que pretendem passar e as diferentes formas de as gerir. O clima emocional da família afeta a reatividade emocional das crianças assim como a qualidade e segurança nas relações com os diferentes elementos da família. As reações dos pais às emoções das crianças, as suas crenças emocionais, as discussões sobre emoções com as crianças, os estilos de expressividade e a modificação e seleção das situações organizam o comportamento parental nas interações pais-crianças guiando as crianças na sua própria experiência emocional. A socialização parental das emoções é um processo multidimensional e abrangente, encontrando-se associado às capacidades emocionais com impacto na maturação sócio-emocional e no desenvolvimento de competências de cariz emocional e social.

Os pais influenciam a socialização das emoções através da sua expressão emocional, apesar de nem sempre ser dirigida aos filhos, demonstrando às crianças, através da modelação, quando é ou não apropriado expressar emoções e como interpretar situações relacionadas com as emoções.


A expressividade emocional da família é uma componente crítica dentro do enquadramento familiar sendo considerada um método indireto de socialização das emoções.

A expressividade emocional de uma família apresenta variações na frequência e intensidade da manifestação das suas emoções discretas. Cada elemento da família tenta conduzir e influenciar o modo como os outros experienciam as suas emoções, podendo conduzir à supressão, modificação (intencional ou não intencional) ou intensificação das mesmas.

O padrão típico de expressividade emocional de uma família tem impacto no desenvolvimento dos esquemas das crianças de duas formas distintas: por um lado através do estilo típico apresentado, que dá à criança bases para compreender, definir e integrar noções sobre o modo como deve e pode expressar as suas emoções. Por outro lado, os eventos específicos, isto é, não normativos dentro do contexto familiar permitem integrar novos modos de experienciar e expressar as emoções, preparando-a para lidar e interpretar diferentes situações sociais e facilitando a sua adaptação.


O padrão típico de expressividade emocional de uma família não significa que todos os elementos apresentam estilos iguais, isto é, entre os elementos de uma família poderá existir uma variabilidade entre os estilos parentais, a expressividade emocional de uma família pode variar consoante os contextos e, ainda, as famílias poderão apresentar padrões de responsividade diferentes a comportamentos e situações.


As atribuições dadas à expressividade emocional contribuem para a formação dos esquemas intra e interpessoais, relacionando-se com o valor atribuído às emoções e à sua expressão, com crenças sobre a regulação emocional e expressão emocional, os estados emocionais de base e o uso de poder através da expressividade emocional.

Expressividade emocional positiva é associada à competência social, emotividade positiva, compreensão emocional, comportamentos pro-sociais e melhores níveis de autoestima. Crianças de famílias que expressam emoções positivas regularmente são mais sociais, mais populares entre os pares e ajustados psicologicamente, sabendo experienciar as emoções de acordo com os contextos com menores níveis de agressão e maior resiliência perante situações de stress.


Expressividade e socialização do afeto negativo correlacionam-se com o modo como o indivíduo lida com a expressão de raiva, mostrando que a expressão emocional não se encontra apenas dependente de características da personalidade ou de características da situação per si, mas que se reporta a experiências que ocorreram no seio da família, durante a sua infância, através da imposição de normas e crenças. Neste sentido, crianças que têm uma relação familiar demarcada pela ausência de suporte ou que suportam maiores níveis de punição, podem apresentar estratégias de coping evitantes.


Um nível moderado de emoções negativas pode ser benéfico para o desenvolvimento emocional da criança, sendo que um nível baixo, extremo, pode limitar as oportunidades da criança aprender a regular emoções, propiciando uma maior desregulação emocional e menor compreensão dos limites do seu comportamento.


Pais com maiores competências de treino emocional apresentam maior consciência das suas emoções e da dos seus filhos, considerando as emoções importantes e naturais e portanto uma oportunidade de se conectarem emocionalmente, de refletir e ensinar. Em contraste, pais com uma postura de “desaprovação” apresentam uma menor preocupação com a expressão emocional, considerando as emoções como disruptivas e perigosas, encarando a expressão de emoções negativas como um comportamento a extinguir.

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