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Dualidade: os dois lados da mesma moeda

post-10-12-12

Não te amo mais.

Estarei mentindo se disser que Ainda te quero como sempre quis. Tenho certeza de que Nada foi em vão. Sei dentro de mim que Você não significa nada. Não poderia dizer nunca que Alimento um grande amor. Sinto cada vez mais que Já te esqueci! E jamais usarei a frase EU TE AMO! Sinto, mas tenho que dizer a verdade: É tarde demais…

(Clarice Lispector)

OBSERVE: Agora leia de baixo para cima. Vê a diferença?

Gosta mais do inverno ou do verão? De bebidas amargas ou doces? Das cores quentes ou frias? A filosofia chinesa refere-se a estas associações como complementares. Já nós, ocidentais, associamos a isto uma ideia de oposição. Quente ou frio, alto ou baixo, claro ou escuro.

O interessante é perceber que não teríamos consciência de um se não fosse o outro. Explico: se vivêssemos num lugar onde nunca escurecesse, jamais teríamos a noção de escuridão, porque só existiria luz. Mas, também não reconheceríamos a claridade, não saberíamos sequer da sua existência, mesmo estando dentro dela. Se todas as pessoas, árvores e montanhas tivessem a mesma altura, não teríamos noção de alto e baixo. Daí nasce o que chamamos de oposição, como se fossem duas coisas separadas e não relacionadas.

Assim, fica mais fácil perceber que esta dualidade é fundamental para que se tenha noção do mundo físico. Mas, o dual ou o complementar (dependendo do ponto de vista), não existe apenas na matéria. A ideia que temos de nós mesmos também é baseada na dualidade e, por que não dizer, na oposição. Estamos a falar do bem e do mal.

Para nós, o bem e o mal são dois guerreiros poderosos que se enfrentam todos os dias dentro das nossas mentes frágeis. Mas, do ponto de vista psicológico, o mal nada mais é que as nossas partes renegadas. A sociedade impõe comportamentos considerados apropriados para a chamada “boa convivência” e os comportamentos fora do padrão vigente são relegados às sombras. Luz para o aceitável, escuridão para o inaceitável. Eis a dualidade.

Quando  negamos os nossos defeitos, medos, equívocos, …, negamos nós mesmos na nossa essência, porque aquilo que parece ser o certo para um grupo ou pessoa em particular, pode custar o talento, a individualidade ou os direitos de um terceiro. Infelizmente, tem passado longe da sociedade em geral a noção do estrago feito pela sombra. Somos seres complementares, não existimos como seres completos sem os nossos comportamentos “inaceitáveis”. Somos frágeis, fracos em alguns momentos e fortes e poderosos em outros, é assim que a vida funciona e negar isso apenas fortalece a sombra.

É importante que se diga: a ideia não é deixar que a sombra tome conta, pois sabemos o mal que pode causar, mas sim olhá-la, para que sendo assimilada, possa ser trabalhada positivamente.

E é possível, sim, colocar luz sobre a sombra e transformá-la em mais luz. Lembre-se, uma é apenas a ausência da outra, e a capacidade humana de aceitar-se tal como é, ou seja, clara e escura, fria e quente, doce e amarga é que faz a vida ser o que é, os dois lados de uma mesma moeda.

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