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Francisco Forte

Dificuldades de Aprendizagem Específicas: Dislexia e Disgrafia



As Dificuldades de Aprendizagem Específicas (DAE) são um grupo complexo de condições neurológicas que impactam significativamente a aquisição e a utilização das habilidades académicas fundamentais, como a leitura, escrita e matemática, em crianças e adolescentes. Estas DAE podem desafiar o processo de aprendizagem de uma forma singular e muitas vezes são caracterizadas por dificuldades persistentes e desproporcionais, mesmo na presença de um ambiente escolar adequado e de estimulação cognitiva contínua.

Duas das DAE mais amplamente reconhecidas são a dislexia e a disgrafia. A dislexia, em particular, manifesta-se principalmente na leitura, envolvendo dificuldades na decodificação de palavras escritas e na fluência de leitura, frequentemente acompanhadas de dificuldades na compreensão textual. Por outro lado, a disgrafia compromete a habilidade de escrever de forma clara e eficiente, afetando a formação de letras e a organização das ideias no papel.

Neste contexto, é crucial reconhecer e abordar as DAE de forma holística, considerando não apenas os desafios académicos, mas também o impacto emocional e social que provocam. Este artigo pretende discutir as características distintivas da dislexia e da disgrafia, bem como descrever a relação entre as mesmas e a saúde mental das crianças afetadas. Além disso, serão apresentadas diretrizes específicas para a atuação de psicólogos, educadores e outros profissionais envolvidos, a fim de melhorar a qualidade de vida e o potencial de desenvolvimento dessas crianças, promovendo uma sociedade mais inclusiva e acolhedora para todos, independentemente das habilidades de aprendizagem específicas que apresentem.


Palavras-chave: Dificuldades de Aprendizagem Específicas, Dislexia, Disgrafia, Saúde Mental, Intervenções, Psicologia Escolar.


Dislexia: Uma Barreira na Leitura e na Saúde Mental

A dislexia não afeta apenas a habilidade de leitura, mas tem também um impacto substancial na saúde mental das crianças. A frustração decorrente das dificuldades de leitura pode levar a sentimentos de ansiedade, baixa autoestima e até mesmo depressão. Crianças com dislexia podem sentir-se desencorajadas em relação à escola e ao processo de aprendizagem, o que pode prejudicar o seu bem-estar emocional a longo prazo. É crucial reconhecer que a saúde mental e emocional das crianças com dislexia é uma preocupação tão importante quanto suas habilidades académicas.

As estratégias de intervenção para psicólogos no caso de dislexia podem incluir:

  1. Treino em Habilidades de Autorregulação: Ensinar as crianças com dislexia a reconhecer e gerenciar as suas emoções, como frustração e ansiedade, pode ser fundamental. Técnicas de relaxamento e respiração podem ajudar a reduzir a ansiedade durante a leitura.

  2. Técnicas de Metacognição: Desenvolver a consciência metacognitiva pode ajudar as crianças a monitorizar e ajustar a sua própria leitura. Isso pode incluir estratégias para identificar quando não estão a compreender um texto e como abordar este problema.

  3. Treino de Habilidades Sociais: Ajudar as crianças com dislexia a desenvolver habilidades sociais sólidas pode ser uma estratégia eficaz para lidar com o estigma e a pressão social associados às dificuldades de leitura.

Disgrafia: Desafios na Expressão Escrita e Impacto na Saúde Mental

A disgrafia também pode ter um impacto significativo na saúde mental das crianças. A frustração resultante da incapacidade de escrever de forma clara e legível pode levar a sentimentos de inadequação e ansiedade. Crianças com disgrafia podem evitar tarefas que envolvam escrita, o que pode limitar suas oportunidades de aprendizado e crescimento acadêmico. Portanto, é fundamental reconhecer a interconexão entre as dificuldades de escrita e a saúde mental das crianças.

Para psicólogos, as estratégias de intervenção no caso de disgrafia podem incluir:

  1. Treino de Habilidades Motoras: Oferecer terapia ocupacional para melhorar a coordenação motora fina, o que pode facilitar a escrita.

  2. Técnicas de Automação da Escrita: Ensinar técnicas que ajudem a criança a automatizar a formação de letras, como a repetição de traços e padrões de escrita.

  3. Reforçar a Autoestima: Trabalhar com a criança para desenvolver uma atitude positiva em relação à escrita, enfatizando suas habilidades e progresso ao longo do tempo.

Conclusões e Diretrizes Gerais:

As Dificuldades de Aprendizagem Específicas, incluindo a dislexia e a disgrafia, têm um impacto significativo na saúde mental das crianças, afetando sua autoestima, motivação e bem-estar emocional. Além das estratégias específicas mencionadas, os psicólogos devem abordar essas condições com compreensão, empatia e sensibilidade.

É fundamental reconhecer que cada criança é única e requer uma abordagem individualizada. A identificação precoce, a intervenção personalizada, o apoio à saúde mental e a promoção da autoaceitação são elementos essenciais para capacitar essas crianças a alcançar seu pleno potencial académico e emocional.


Referências:


Shaywitz, S. E., & Shaywitz, B. A. (2020). Dyslexia (Specific Reading Disability). New England Journal of Medicine, 382(10), 946-955.


Berninger, V. W., & Richards, T. L. (2010). Inter-relationships among behavioral markers, genes, brain, and treatment in dyslexia and dysgraphia. Future Neurology, 5(5), 597-617.


Fletcher, J. M., & Miciak, J. (2021). Dyslexia: The Nature of Reading Development and Disorders. Annual Review of Psychology, 72, 121-143.


Fawcett, A. J., & Nicolson, R. I. (2010). Dyslexia: The Role of the Grapheme-Phoneme Correspondence in Reading and Spelling Development. Educational Psychology, 30(1), 3-18.


Graham, S., & Harris, K. R. (2021). The Development of Writing: Insights from the First Twenty Years of the Journal of Writing Research. Journal of Writing Research, 12(3), 183-206.

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