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Crianças e Tecnologia

Atualizado: 19 de jun. de 2020


Longe vão os tempos em que as crianças brincavam na rua.

As horas passavam-se a jogar à bola, a andar de bicicleta, a brincar à apanhada. A diversão vinha à boleia da imaginação, sem grandes custos ou necessidade de supervisão parental. Mas os tempos mudaram.


Hoje, com uma presença natural e cada vez mais inevitável, as novas tecnologias colocam novos desafios a pais e educadores. Compreender o que é ser criança nas sociedades ocidentais da atualidade, requer um conhecimento profundo da sua relação com as novas tecnologias e da mediação tecnológica das experiências de socialização, lazer, comunicação e aprendizagem. Falar com amigos, ocupar os tempos livres e estudar são atividades que parecem depender cada vez mais do acesso à tecnologia. Seja enquanto ferramenta social ou educativa, a sua relevância está igualmente espelhada no investimento que as famílias direcionam para o acesso à Internet.


Então, qual é a medida certa para que o seu uso não se torne prejudicial? E é só prejudicial nas crianças?


O excesso desta utilização é prejudicial a qualquer pessoa, mas em crianças e adolescentes os efeitos podem ser ainda mais nocivos e, por isso, este é um tema que levanta muitas questões sobretudo às consequências desta apresentação tão prematura. É necessária a atenção dos pais e responsáveis para os limites e cuidados na hora de usar as tecnologias.


Afinal, como se faz a introdução saudável das tecnologias na vida da criança? Quando é cedo demais?


As recomendações para a exposição das crianças a todo o tipo de média (televisão, jogos, internet, telemóvel, etc.) são:


– 2 anos: apenas depois dos 2 anos de idade as crianças comecem a ter contacto com esses aparelhos;

– 5 anos: até aos 5 anos, as crianças só deveriam utilizar no máximo 1 hora;

– 6 a 12 anos: nestas idades o tempo aumenta para 2 horas;

– 13 anos: a partir dos 13 anos o tempo aumenta para 3 horas.


Não nos podemos esquecer que as novas tecnologias podem, também, ser excelentes aliadas no desenvolvimento da criança, desde que o acesso aos aparelhos eletrónicos seja mediado de forma consciente pelos pais, dado que há alguns cuidados a ter em consideração de forma a não perturbar o desenvolvimento da criança.

É essencial distinguir quais as vantagens e desvantagens dos dispositivos eletrónicos e como ensinar as crianças a desligá-los.



Principais vantagens


1. Evolução e controlo das capacidades motoras

O contacto com teclados, comandos de consola ou ecrãs de smartphones ou tablets, permitem que as crianças desenvolvam e controlem as capacidades motoras. Isso torna-as mais hábeis enquanto exercitam de forma saudável ossos e articulações.

2. Promoção da comunicação e interação

À medida que as crianças desenvolvem as suas habilidades linguísticas, cresce a necessidade de se inter-relacionarem. As novas tecnologias suportam, então, o desenvolvimento de relações sociais de proximidade. Elas servem para conhecer novos/as amigos/as, algo que as crianças apreciam, estabelecendo redes de comunicação alargadas.

No entanto, aconselha-se vigilância e sentido de responsabilidade por parte dos pais.

3. Acessibilidade que gera conhecimento

O facto das novas tecnologias estarem mais presentes e intuitivas têm influência direta na aquisição e expansão de conhecimentos. Isso pode acontecer através da Internet, por apresentações audiovisuais ou programas educacionais que acompanhem os manuais escolares.

4. Melhoria das funções cognitivas

A interatividade das novas tecnologias cria novos desafios. Existem programas que incentivam a descoberta da escrita, leitura e matemática. Isso eleva as competências da criança e promove a capacidade e envolvimento na própria aprendizagem.

5. Possibilidade de diversão consciente

As novas tecnologias são sinónimo de diversão. Além disso, a interação com algumas aplicações e jogos estabelece relações de causa-efeito, lógica, resolução de problemas e ação-reação.


Desvantagens


Existem alguns problemas associados ao uso excessivo das novas tecnologias. Algumas crianças passam mais de seis horas diárias em frente a um ecrã. A dependência das novas tecnologias deve ser evitada, já que a sua utilização de forma indiscriminada pode destruir o vínculo afetivo entre os membros da família.


Se é pai ou educador, esteja atento:

1. Sedentarismo

Há crianças que se deixam envolver de tal forma pelas novas tecnologias que deixam de lado atividades como o contacto com a natureza e/ou a atividade física.

Algumas investigações referem que esse cenário pode potenciar futuros casos de obesidade.

2. Realização simulada

O ambiente virtual pode favorecer uma sensação de realização simulada, da qual a criança pode retirar conforto particular, mas não real. É necessário confrontar a criança com a realidade para que consiga entender essas diferenças.

3. Distúrbios emocionais

Algumas investigações referem que o uso excessivo das novas tecnologias pode provocar problemas emocionais e de desenvolvimento. Em função disso, existem cada vez mais crianças com sintomas de depressão, ansiedade ou PHDA. Ser vítima de cyberbullying pode ser outro problema acrescido.

4. Travão à sociabilidade

O anonimato e a sensação de poder que a tecnologia proporciona podem prejudicar a comunicação com o mundo. Isso pode prejudicar a sociabilidade e a capacidade de se relacionar com os outros e o mundo real, caindo num isolamento constante.

5. Pressão social e financeira

Ainda que seja cada vez mais acessível, a aquisição de gadgets exige esforço financeiro. Na tentativa de se sentirem integrados e possuírem consolas, smartphones ou outro tipo de equipamentos, as crianças tendem a “exigir” dos pais esforços, por vezes, insuportáveis.





Estratégias para uma dieta digital saudável:


- Estabeleça um conjunto de regras

Convoque uma reunião familiar a fim de estabelecer regras sobre o uso dos aparelhos. É essencial envolver as crianças na decisão, pedindo-lhes sugestões. Isso vai responsabilizá-las a cumprir o acordo que ajudaram a criar.


-Redes Sociais

As redes sociais são uma das principais formas de socialização da internet, espaços em que as informações pessoais são partilhadas e, portanto, devem ser muito controladas. É importante que os pais estejam a par do que os filhos publicam: deve ajudá-los a compreender o que devem ou não partilhar e que pessoas devem ter na rede de amigos, bem como que tipo de páginas devem seguir.


-Analise e registe as atividades

Compare o tempo que cada elemento da família passa online e em atividades de grupo. Isso vai ajudar a perceber os hábitos a alterar e estabelecer metas em termos de vínculo familiar e comunicação.


-Formalize um “contrato” familiar

Depois de definidas as regras, idealize um “contrato” que será assinado por toda a família. A noção de compromisso é fundamental para se conseguirem bons resultados.


-Organize eventos tech-free

Defina eventos semanais onde as novas tecnologias ficam de fora. Nesse tempo podem entrar, por exemplo, jogos de tabuleiro ou reuniões sobre tema a combinar. Este tipo de ações promove as relações familiares e sociais.


-Opte pela comunicação verbal

Sempre que possível, evite comunicar com o seu filho por mensagens de texto ou emojis, apostando na verbalização. Caso estejam no mesmo espaço, o uso de telemóveis fica proibido.


-Tire férias da tecnologia


- Alerte para a proteção dos ouvidos

Estar conectado implica a envolvência de vários sentidos. Muitas crianças passam algumas horas do dia com auriculares, e, caso o volume não seja adequado, podem afetar a audição, um risco irreversível. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, devido à escuta insegura a partir de alguns aparelhos, mais de mil milhões de jovens correm o risco de ficar surdos.


Não ao cyberbullying

Quer sejam testemunhas ou vítimas, as crianças devem entender que frases depreciativas, conteúdo inapropriado ou críticas a outras pessoas não devem ser permitidas. Incentivá-los a dizer se encontram alguma situação deste tipo será fundamental tanto para a proteção deles quanto para a de outros jovens.


A educação dos pequenos deve nascer de uma comunicação fluida entre pais e filhos, aplicando sempre o bom senso e confiando neles, mostrando-lhes que também podem confiar nos pais.

Oferecer todas as informações disponíveis e explicar os benefícios e os riscos das novas tecnologias fará com que aprendam a perceber desde tenra idade quais são as melhores práticas em cada caso.


É importante ainda terem a consciência de que não devem estimular as crianças antes do tempo a utilizarem os equipamentos. O ideal é deixar que elas mesmas demonstrem interesse e só depois os pais possam mostrar-lhes como usar os aparelhos de forma correta.



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