Uma vida noutro país que não o país de origem tem múltiplos desafios. Um dos desafios da vida nos Países Baixos é a língua. Os próprios holandeses são os primeiros a afirmar que o idioma não é fácil. O facto do inglês ser um idioma muito conhecido e falado nos Países Baixos, facilitando muito a vida de quem lá vive, quem vem de fora é confrontado com uma vida (no mínimo) bilíngue.
Muitos expatriados aceitam muito bem esta realidade, embora experienciem muitas preocupações, angústias, dúvidas e ansiedade quando se deparam com a necessidade de bilinguismo infantil. Considerando as angústias mais comuns dos pais, neste artigo vamos esclarecer algumas dúvidas comuns sobre o desenvolvimento infantil bilíngue.
Ser bilíngue significa conseguir falar mais do que uma língua. A aprendizagem das duas línguas pode decorrer de duas formas: a) em simultâneo, quando a criança está imersa num contexto bilíngue desde o nascimento e aprende as duas línguas em simultâneo, por exemplo quando os dois pais têm nacionalidades diferentes; b) de forma sequencial, quando a criança aprende a segunda língua depois da primeira língua (língua materna) estar bem estabelecida, como observamos quando a criança é expatriada.
As situações que podem levar uma criança a desenvolver o bilinguismo podem ser diferentes. Para expatriados, os casos mais comuns são: ser de uma família intercultural e conviver com mais do que um idioma em casa; ou a imigração da família para um país de idioma diferente da língua materna.
Existem benefícios em ser bilíngue?
A investigação científica é unânime em comprovar que há benefícios no domínio de mais de uma língua, nomeadamente: desenvolvimento de competências cognitivas (entender ideias e como aplicá-las), resolução de problemas complexos, atenção, memória e pensamento criativo.
O que podemos esperar da criança quando exposta a mais do que um idioma?
Vamos pensar numa situação comum: uma criança fluente em português, muda-se com a família para os Países Baixos com 4 anos, começando, desde logo, a frequentar a escola regular holandesa. É possível que:
a criança fique mais silenciosa e utilize mais gestos para comunicar, enquanto aprende e desenvolve a segunda língua que lhe é totalmente desconhecida. Emocionalmente, a criança pode sentir-se frustrada por não conseguir expressar o que pensa e sente com a fluência com que estava habituada;
após a fase inicial, a criança comece a misturar as duas línguas ou tenha dificuldade na pronúncia do holandês. Se a criança ainda não teve suporte específico para o desenvolvimento do novo idioma, é o momento certo para o providenciar. Outro aspeto importante é perceber como é que a criança se relaciona emocionalmente com o segundo idioma, como reage às confusões e erros ao tentar falar, ler e expressar-se no novo idioma. Gradualmente, este processo será superado e a criança continuará a aprender e a desenvolver competências, tornando-se fluente;
a criança se mantenha fluente na língua materna, desde que continue a ser exposta a esta língua. Essa exposição pode facilitar a comunicação com parentes, como também a estabelecer ligação com a cultura do país de origem. Caso a criança não seja exposta ao primeiro idioma, tal poderá interferir no domínio e uso da língua materna.
Bilinguismo causa atraso no desenvolvimento da linguagem?
A investigação demonstra que ser bilíngue não causa atraso no desenvolvimento da linguagem. O que, por vezes, acontece é que ao aprender duas línguas ao mesmo tempo, desde o início da infância, a criança possa começar a falar mais tarde e ter um vocabulário inferior em cada uma das línguas. Ainda assim, as competências linguísticas são desenvolvidas nos mesmos padrões e timings que a criança que fala apenas uma língua.
O que as mães e pais podem fazer ?
Desde o início, os pais poderão procurar informação sobre bilinguismo, desenvolvimento da fala e dar a oportunidade à criança de obter suporte adequado ao seu nível de desenvolvimento. Quanto mais natural e ajustado for o contacto com os idiomas, mais favorável será para a criança.
Outro aspeto importante é perceber que, se há dificuldades prévias identificadas na aquisição da linguagem, será necessário repensar a exposição a mais do que um idioma. Essas dificuldades podem interferir na aprendizagem simultânea das duas línguas, surgindo dificuldades ao nível da linguagem e da fala.
Por último, e igualmente importante: os pais e as mães (cuidadores, de um modo geral) precisam de compreender as suas emoções durante este processo. As expectativas dos cuidadores interferem no processo de aprendizagem da criança, o que não será diferente no caso da aquisição de dois ou mais idiomas.
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