O uso de drogas que melhoram o desempenho para estudar ou trabalhar é frequentemente chamado de “aprimoramento cognitivo”. Eu esbarrei neste tópico quando assisti ao documentário da Neflix “Take Your Pills” há alguns anos.
Enquanto assistia, fiquei realmente impressionada (e, honestamente, horrorizada) com o quão difundido e comum é o uso de estimulantes (como Adderal e Ritalina) entre os alunos (uma boa parte deles, universitários, mas também mais jovens) para aguentar a pressão dos exames e manter o foco no trabalho escolar por horas e horas seguidas - algo que nunca poderiam fazer, em termos de duração e qualidade de concentração sem estas drogas.
Estimulantes como o metilfenidato (mais conhecido como Ritalina), bem como alguns tranquilizantes, como betabloqueadores ou ansiolíticos, são comummente prescritos como medicamentos para doenças específicas (perturbação de hiperatividade e défice de atenção - PHDA, narcolepsia, doença de Parkinson, doença de Alzheimer, doenças cardíacas, perturbações de ansiedade,...), mas muitas vezes são usados sem receita médica ou por outros motivos que não os prescritos.
As principais motivações para indivíduos saudáveis usarem “drogas inteligentes” (como também são chamadas) são:
- neuroaprimoramento cognitivo: o aprimoramento dos parâmetros de desempenho mental no campo da atenção, vigilância, aprendizagem e memória, bem como concentração, está em primeiro plano
- neuroaprimoramento emocional (melhoria do humor): um humor otimizado e/ou uma modulação de traços de personalidade como as capacidades sociais, estão no foco desta abordagem. Os utilizadores destas drogas também antecipam um efeito positivo concomitante com os parâmetros cognitivos
- neuroaprimoramento moral: o aprimoramento moral vem ganhando cada vez mais atenção no campo terapêutico do trauma - a inibição da consolidação de novos engramas de memória potencialmente traumáticos, bem como a extinção de memórias traumáticas existentes, é um recente campo de aplicação destes medicamentos
Embora esta última motivação possa ser um pouco mais confusa (e exclusiva de certas perturbações ou problemas psicológicos, além de estar de facto sob grande escrutínio pelas suas aparentes potencialidades clínicas), as duas primeiras deixam bem claro quais as vantagens subjetivas que as pessoas procuram ao tomar medicamentos que não lhes foram prescritos.
Um estudo de 2017 sugere que a disseminação de práticas no estilo dos EUA no tratamento de PDAH está impulsionando a tendência e tornando os medicamentos mais disponíveis: países com taxas mais altas de diagnósticos de PDAH, como Estados Unidos, Canadá e Austrália, têm também taxas mais altas de pacientes não diagnosticados com PDAH e que fazem uso de medicamentos prescritos para aprimoramento cognitivo. O estudo descobriu que quase metade (48%) das pessoas relataram que obtiveram as drogas através de amigos; 10% os compraram de um revendedor ou pela Internet; 6% os obtiveram de um familiar; e 4% disseram ter as suas próprias prescrições.
O “Take Your Pills” abriu-me os olhos e, desde então, comecei a ser uma juíza mais atenta do uso de estimulantes. Não é sem ELEVADOS RISCOS que este "aprimoramento" ocorre e eu desafio-vos a ver este filme e a perceberem como se vão sentindo ao longo dele.
Ficarei a aguardar feedback :) É provável que voltemos a falar mais sobre este tema no futuro - fiquem atentos!
Fontes:
Int J Environ Res Public Health. 2014 Mar; 11(3): 3032–3045. doi: 10.3390/ijerph110303032
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